Calçadas da Voluntários da Pátria são refeitas pelas mesmas mãos de 50 anos atrás

As calçadas de pedras que os curitibanos pisam têm muitas histórias: arte, cultura e o talento de pessoas. Assentadas por mestres calceteiros de várias épocas, o trabalho artesanal e milenar resiste e pode ser conferido na revitalização da Rua Voluntários da Pátria, no Centro, onde será preservada uma parte do tradicional petit-pavé, ao lado de uma faixa acessível feita em concreto.

Na Voluntários da Pátria estão hoje o trabalho das mesmas mãos caprichosas dos irmãos e mestres dos mosaicos portugueses Sebastião e José de Souza. Junto com outros calceteiros, eles estão reconstruindo o petit-pavé que fizeram na mesma via há quase 50 anos. Um dos primeiros e dos muitos trabalhos feitos pelos irmãos na capital paranaense.

“Começamos lá pela Rua João Negrão, depois na Pedro Ivo e chegamos aqui na Voluntários. Acho que foi no final de 1960 ou começo de 70”, lembrou Sebastião, 65 anos.  

De família de calceteiros, aprenderam o ofício em Ponta Grossa, distante a 100 quilômetros de Curitiba. Na capital chegaram ainda jovens, e carregam no currículo o tradicional calçadão da Rua XV de Novembro, as calçadas em ondas do Teatro Guaíra, da Praça Rui Barbosa, da Generoso Marques e tantos trechos que estão sob os pés dos curitibanos até hoje.

Os irmãos defendem a arte da calcetaria com afinco e conhecimento de causa. Trabalham no mesmo ofício desde os 15 anos. “As pessoas confundem, não somos pedreiros, somos calceteiros, que é muito diferente”, falou José.

“Amo meu trabalho e acho mesmo que de calçadas de passeio elas são as melhores. Veja o petit-pavé da Santos Andrade (praça), tem mais de 40 anos e estão do mesmo jeito”, disse Sebastião de Souza.

Com quantas pedras se faz uma calçada

A receita para uma boa calçada de mosaico português segundo Sebastião é preparar bem a base, com areia e deixar o terreno nivelado. Cada pedra é encaixada seguindo o desenho definido pelo Ippuc (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba), responsável pelos projetos.

Para um metro quadrado de calçada de petit-pavé, os calceteiros usam entre 300 e 350 pedras, dependendo do desenho. “Por dia dá pra fazer uns 6 metros quadrados”, contou Sebastião.

Uma a uma, o calceteiro escolhe pelo toque o lado da pedra que fica voltado para cima, onde o pedestre vai pisar. Se não der o encaixe, é preciso preparar a pedra antes de assentá-la.

O mosaico que está sendo feito em metade da calçada da Rua Voluntários da Pátria é uma rosácea de pinhão, tradicional desenho do Movimento Paranista das décadas de 1920 e 1930. 

Em Curitiba, as calçadas portuguesas também são conhecidas por petit-pavé. Técnica trazida por imigrantes no início do século 20, e que aqui ganharam desenhos art déco e art nouveau e, especialmente, os do Movimento (1903 -1923), criado por artistas e como Lange de Morretes, Domingos Nascimento, Romário Martins, Zaco Paraná e João Turin.