FAS e comunidades terapêuticas se unem para tratar e tirar pessoas das ruas

Desde o ano passado, as comunidades terapêuticas têm sido parceiras da Fundação de Ação Social (FAS) para atendimento a pessoas em situação de rua acolhidas e que são dependentes químicos. Em um ano e meio, 212 delas fizeram tratamentos nessas instituições que unem serviços de assistência social e de saúde.

Quarenta e duas pessoas aceitaram encaminhamento só nos últimos três meses, período em que a FAS vem trabalhando para ampliar as ações de acolhimento institucional para a população de rua e evitar a contaminação pela covid-19.

Atualmente duas comunidades terapêuticas participam da parceria, número que em breve deve aumentar para seis. Apenas uma delas recebeu 177 pessoas encaminhadas pela FAS, sendo que 77 continuam acolhidas e 14 concluíram o tratamento.

Sem casa, seis homens foram abrigados pela FAS na República Pioneiros, unidade que atende pessoas que estão no processo de saída das ruas. O restante (76) desistiu do processo de desintoxicação.  

Alternativa

A parceria com as comunidades terapêuticas é uma resposta ao número de usuários de drogas entre as pessoas em situação de rua, segundo o presidente da FAS, Fabiano Vilaruel.

Um levantamento feito pela FAS mostra que 59% das pessoas abordadas pelas equipes em 2019 se autodeclararam dependentes químicos. Durante todo o ano, 5.441 pessoas responderam a perguntas dos educadores sociais, mais da metade delas em trânsito pela cidade. Curitiba tem atualmente 2.618 pessoas em situação de rua inseridas no Cadastro Único.

“Esse trabalho conjunto com as comunidades terapêuticas é de extrema importância tendo em vista que nestes espaços atuam equipes com o conhecimento necessário para agir corretamente em casos de abstinência, assegurando assim a integridade de saúde dos acolhidos, bem como dos agentes que atuam diretamente com esse público”, diz Vilaruel.

Certificação

As comunidades terapêuticas são instituições de acolhimento voluntário a dependentes de substâncias psicoativas. Não integram o Sistema Único de Saúde (SUS), mas são consideradas equipamentos da rede suplementar de atenção, recuperação e reinserção social.

Para funcionar, precisam ser certificadas pelo Conselho Municipal de Assistência Social e cadastradas no Conselho Nacional de Entidades de Assistência Social.

Nesses espaços são desenvolvidos projetos terapêuticos, que contam também com atividades recreativas e que buscam promover o desenvolvimento interno, a promoção do autocuidado e de sociabilidade. O acolhimento dura, em média, nove meses. 

Autonomia

O terapeuta Jackson de Souza, coordenador do projeto junto às comunidades terapêuticas, explica que o acompanhamento nessas instituições deve ser voluntário.

“A pessoa precisa demonstrar que realmente quer ir. Só assim é possível ter o comprometimento necessário e gerar o princípio da autonomia”, explica.

Muitas das pessoas encaminhadas para comunidades terapêuticas foram encontradas nos mutirões Curitiba Que Acolhe, promovidos pela Prefeitura, na Praça Rui Barbosa. Equipes das instituições e da FAS faziam o diagnóstico para ver quem realmente estava pronto para o processo de desintoxicação. Em função da pandemia, os mutirões não estão acontecendo.

Outra ferramenta, segundo Souza, é a busca ativa nos Centros de Referência Especializados para a População em Situação de Rua (Centros POP).

Souza explica o tratamento da dependência química não é processo mais difícil para as pessoas atendidas nas comunidades terapêuticas.

“O grande desafio é restaurar vínculos familiares, valores, reinserção no mercado de trabalho e a ressocialização dessas pessoas à sociedade como um indivíduo pleno”, diz.

Vida nova

Emerson de Lima Gonçalves, 31 anos, procurou um mutirão social em busca de tratamento em uma comunidade terapêutica.

“Fiquei sabendo por intermédio da mãe de um amigo, que também estava em situação de rua”, contou.

Decidido a mudar de vida, Gonçalves foi encaminhado para uma comunidade, onde ficou 8 meses e 25 dias e saiu no fim de maio.

“Mudou muito a minha vida. Eu já tinha ficado em outros locais, mas dessa vez estou diferente”, diz o rapaz que chegou a frequentar a cracolândia de São Paulo.

Cozinheiro, Gonçalves voltou a morar com a mãe e agora sonha em arrumar um emprego formal. “Quero ter minha casa, uma família.”

O baiano Edvaldo Sousa Diogo, 39 anos, também deixou as ruas, depois de ser atendido em um mutirão social e passar por um processo de desintoxicação em uma comunidade terapêutica. Ele chegou a Curitiba em março de 2019 e ficou por 15 dias morando na rua.

“Na época, fui ao mutirão em busca de um almoço e acabei encontrando essas pessoas abençoadas. Conversando com elas, decidi buscar um tratamento, agarrei a oportunidade. Meu pensamento hoje é outro”, contou o homem, que hoje está morando em Belo Horizonte, para ficar perto da família.