Com 55 mil atendimentos, Consultório na Rua leva saúde a população vulnerável

Um banco na praça ou a proteção de uma marquise muitas vezes são o espaço necessário para a realização do trabalho das equipes do Consultório na Rua, programa formado por diferentes profissionais de saúde aptos a oferecer serviços para população em situação de rua e vulnerabilidade social. Implantado em Curitiba em agosto de 2013, a partir de uma parceria com o Ministério da Saúde, o programa já registrou quase 55 mil atendimentos em diversas regiões da cidade.

Entre os procedimentos realizados, destacam-se consultas odontológicas, de enfermagem, psicológicas, médicas, curativos, administração de medicamentos, acompanhamento em consultas especializadas e encaminhamentos para os mais diversos serviços da rede de saúde e outros da rede pública.

As equipes do Consultório na Rua são formadas por médicos, psicólogos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, assistentes sociais, dentistas e auxiliares de saúde bucal que oferecem às pessoas em situação de rua a possibilidade do cuidado integral em saúde. O trabalho é feito também em parceria com os profissionais da Fundação de Ação Social (FAS), que, por meio da oferta de serviços de abordagem, atendimento social e acolhimento, buscam restabelecer vínculos familiares e comunitários, na perspectiva de superação da violação de direitos, construção de novas referências familiares e comunitárias e da inclusão social.

Foi dessa forma que Jéssica de Oliveira, 31 anos, foi, literalmente, resgatada. Devido à dependência química, ela estava morando em uma casa abandonada, vivendo exclusivamente das drogas. Uma equipe do Consultório a atendeu e a encaminhou para os serviços públicos necessários naquele momento.

Ela recebeu acompanhamento no Centro de Atenção Psicossocial (CAPs), passou por acolhimento da FAS e hoje reside na casa de um amigo. “Estou sendo muito bem tratada, não apenas como paciente, mas como uma amiga. O objetivo deles é melhorar a vida da gente”, comenta. Assim que terminar o tratamento, Jéssica quer se reaproximar dos dois filhos, que hoje estão sob os cuidados de seus familiares. “Eu quero ficar bem para poder cuidar deles”, enfatiza.

Andréa Lobo, 44 anos, também tem muitas histórias para contar dos 23 anos que viveu nas ruas de Curitiba, mas estufa o peito para avisar que, com a ajuda da equipe do Consultório na Rua, há pouco mais de três anos ela parou de beber, não mora mais na rua e agora já tem até um emprego, como auxiliar em uma organização não-governamental. “Não vou mais dar lucro pra dono de boteco. Hoje eu estou mais que 100%”, afirma.

A coordenadora do programa Consultório na Rua, a psicóloga da Secretaria Municipal da Saúde Adriane Wollmann explica que são quatro equipes multiprofissionais que se distribuem, de segunda a sexta-feira, entre todas as subprefeituras de Curitiba, nos locais de grande concentração de pessoas em situação de rua. E, além das equipes, o Trailer do Consultório na Rua se reveza entre o Largo da Ordem, o Terminal do Boqueirão e a Praça Rui Barbosa, sempre entre 9h e 16h, oferecendo, além dos procedimentos já descritos, testagem rápida para HIV, sífilis e hepatites virais.

Para Adriane, no início do programa, o principal desafio foi conquistar a confiança desse público. “Foi um longo processo de construção de vínculos com os profissionais da equipe. Muitas das pessoas que estão nas ruas não têm documentos, mas ainda assim eles sentem dores, têm problemas, precisam de medicamentos e, inclusive, de internamentos hospitalares. Por isso é fundamental que sejam tratados como qualquer outro cidadão de direitos”, enfatiza.