Alerta: conscientização marca a Semana de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas

Uma semana para alertar que o tráfico de pessoas continua a violar direitos e destruir vidas em todo o mundo. De 28 de julho a 2 de agosto, acontece a Semana de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, que integra a campanha Coração Azul, mobilização que chama a atenção para uma das mais graves violações de direitos humanos da atualidade.

Em todo o mundo, milhares de pessoas são exploradas em situações de trabalho forçado, escravidão doméstica, exploração sexual e outras formas de violência.

Vitor (nome fictício) foi vítima do tráfico de pessoas. Ele relata que recebeu uma oferta de emprego por um amigo de infância para trabalhar no continente asiático. Mas, chegando lá, era obrigado a fazer serviços ilegais, proibido de sair, vigiado o tempo todo e ameaçado. “Lá a gente tinha que comer o que eles davam, havia horário pra comer, horário para trabalhar e para voltar para o quarto e ficar trancado”, conta.

Quando percebeu que aquilo era tráfico de pessoas, conseguiu escapar, mas afirma que até hoje os traumas ficaram. “Isso virou o meu mundo de cabeça pra baixo, porque deixei muita coisa de lado. Eu tinha um bom emprego e uma vida boa. Essas coisas não voltaram. Fora que a mente fica mexida. Minha cabeça foi vendida por mil doláres”, lembra.

Outra que felizmente conseguiu escapar das mãos do tráfico internacional de pessoas foi Maria (nome fictício). Ela conta que foi aliciada com uma proposta de ganhar dinheiro na Europa, mas, ao chegar lá, as coisas foram para um lado obscuro.

O rendimento não era o esperado, as condições de trabalho eram  humilhantes e a jovem não podia ter contato com seus parentes e amigos no Brasil. “Quando percebi, já era tarde. Eu já estava refém, sem contato algum com pessoas aqui no Brasil. Por sorte consegui fugir junto com uma amiga que também caiu no golpe. Fomos até a polícia local e à embaixada do país em que estávamos. O que era quase impossível, por sorte deu certo”, relata.

Lucas (nome fictício) também foi aliciado com uma promessa tentadora de emprego, por alguém próximo da família. Na ocasião, vendeu seus bens por acreditar estar investindo no futuro profissional. Ao chegar à Ásia, se deparou com uma realidade cruel: foi impedido de sair, mantido em cárcere, teve seus documentos e dinheiro retidos.

Depois de conseguir escapar e tentar se reerguer, faz um alerta, “Se você recebeu uma proposta, seja dentro do Brasil ou não, desconfie, pare pensar, ainda mais se o valor for muito alto. Tem que tomar muito cuidado com tudo e não confiar em ninguém”, destaca.

Maria, Vitor e Lucas procuraram o Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas do Paraná, da Secretaria de Justiça e Cidadania, e receberam todo o acompanhamento necessário. E, como alerta, dão voz a outras vítimas que têm medo de denunciar. “Esse crime pode acontecer com qualquer um e quero alertar as pessoas para que sempre se mantenham atentas a propostas tentadoras e suspeitem ao máximo de tudo que oferecerem”, diz Maria.

Segundo Valdemar Jorge, secretário de Justiça e Cidadania, a existência desse crime é um chamado para a ação. “É um absurdo pensar que nos dias atuais ainda precisamos falar em tráfico de pessoas. É algo que nunca deveria ter existido na história da humanidade. Mas, como continua a acontecer, não podemos nos calar. É algo que deve ser combatido com todas as nossas forças. Denuncie!”, orienta.

“O tráfico de pessoas é um crime em movimento e silencioso. A maior repressão que podemos realizar é a prevenção”, afirma Silvia Cristina Xavier, coordenadora do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas da Seju.

CONSCIENTIZAÇÃO – Para marcar a semana de conscientização, o Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas está promovendo, em conjunto com parceiros, ações de conscientização para toda a população em diferentes locais do Paraná. Entre as atividades estão programadas distribuição de panfletos, materiais gráficos, exposições artísticas, palestras, seminários e propagação de informações.

No sábado (26), ocorreram ações em Foz do Iguaçu. No domingo (27), em São José dos Pinhais. Nesta segunda (28), voluntários da Jocum (Jovens com uma missão) fizeram alertas na Rodoferroviária de Curitiba.

As ações continuam nesta terça (29) e, no dia 30, haverá em Curitiba o Seminário Estadual de Enfrentamento de Tráfico de Pessoas, com representantes dos governos federal e estadual e também de municípios paranaenses. A programação continua até 2 de agosto.

Em todos os locais, os participantes chamam a atenção do público com encenações sobre o tráfico humano. Há pessoas dentro de carrinhos de supermercados, como se fossem mercadorias. Malas abertas com homens e mulheres dentro, e pessoas amarradas ou sendo puxadas por cordas também são mostradas, entre outras representações.

Há, ainda, distribuição de materiais com orientações para denúncias e, para as crianças, corações moldados em balões na cor azul.

“Essa ação é muito importante para nossa sociedade como um alerta, porque muitos ainda são vistos como mercadorias. A informação é o que salva vidas”, relata Neusa Dias, de 63 anos, moradora de São José dos Pinhais.

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