Lava jato planejou dispositivo Anti-Bolsonaro nas eleições 2018
O Chefe da Força-Tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol, planejou interferir nas eleições 2018. Junto com o diretor da ONG Transparência Internacional, Bruno Brandão, o procurador da República propôs uma parceria com a Folha de São Paulo/UOL para ajudar os eleitores a escolher em quem votar nas eleições com um dispositivo Anti-Bolsonaro. O objetivo seria impedir um "maníaco" de passado limpo de assumir a presidência da República. Com a extensa ficha suja de Lula e o dispositivo de Dallagnol contra Bolsonaro, o espaço seria aberto para um candidato do PSDB vencer a eleiçao, mas o plano foi frustrado com a vitória de Jair Bolsonaro com mais de 57 milhões de votos.
Diálogos de procuradores da Lava Jato revelam que em janeiro de 2018, ou seja nove meses antes da eleição para presidente, o chefe da Força Tarefa, Deltan Dallagnol, planejou a criação de um site para referendar candidatos de ficha limpa. A proposta de aparente interesse público parecia boa, se não fosse por este detalhe: A cláusula Anti-Bolsonaro, uma tentativa de interferir nas eleições.
Veja a reportagem em vídeo:
Chats obtidos com exclusividade pela reportagem, mostram Dallagnol e o diretor da ONG Transparência Internacional planejando queimar Bolsonaro pela questão ideológica, já que não pesa sobre ele nenhum escândalo de corrupção. A cláusula Anti-Bolsonaro seria para que um filtro de passado limpo, não servisse de plataforma para “maníacos com ficha limpa, mas discurso de ódio fossem eleitos”. Os diálogos estão no chat denominado “A Vingança” em que participam o chefe da Força Tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, o diretor da ONG Transparência Internacional, Bruno Brandão e o professor da FVG Michael Mohallem.
No mesmo chat, nominado pelos próprios promotores como “A Vingança”, Deltan revela que estava com insônia e temia uma catástrofe. O diretor da TI respondeu que os brasileiros iriam queimar as urnas elegendo Bolsonaro.
Procuradores da Lava Jato pressionavam a Força-Tarefa para uma manifestação oficial contra Bolsonaro. Neste trecho, Deltan Dellagnol comenta um texto contra o presidente recém-eleito, escrito por ele e compartilhado nas redes sociais pela procuradora Jerusa Viecili.
Veja:
A tentativa de interferência nas eleições 2018 pelos procuradores da Lava Jato era iminente. Desde 2014 não é segredo que participantes da Força-Tarefa mostravam simpatia pelo PSDB. O que chamou a atenção em um dos chats foi a fala do procurador José Robalinho Cavalcanti, um dos candidatos à lista tríplice para procurador-geral da República. Ele disse que entre Bolsonaro e Lula, votaria no candidato petista como já havia feito em 1989.
Mesmo depois de Jair Bolsonaro ter sido eleito presidente da República, o chefe da Força-Tarefa da Lava Jato insistia na pauta Anti-Bolsonaro. Neste outro trecho dos diálogos que a reportagem teve acesso com exclusividade, Dallagnol disse que as postagens de sua colega Jerusa não eram com viés de esquerda, mas Anti-Bolsonaro, com novas tentativas de encontrar crimes nesta gestão, o que até agora não aconteceu.
Neste outro trecho, Deltan compartilha um texto que sugere um pouco de lucidez na esquerda falando sobre machismo, homofobia e fascismo, referindo-se a Bolsonaro, na ocasião faz auto crítica à esquerda apontando já para a derrota nas eleições 2018.
Neste outro trecho, Dallagnol revela animosidade contra Bolsonaro e se mostra decepcionado com a votação expressiva no candidato do PSL no primeiro turno e faz uma “mea culpa” por esse resultado.
Procuradores da Lava Jato queriam, de forma forçosa, convencer Bolsonaro a assinar um compromisso para nomear o PGR que eles tinham interesse. “Acho também muito pouco provável que Bolsonaro assine. Ele não vai se comprometer com o ponto da nomeação do PGR a partir da lista tríplice. Ele já disse que não seguiria a lista se vier só com esquerdistas”, disse Bruno Brandão, da Transparência Internacional, que também fazia parte do grupo.
A pauta Anti-Bolsonaro dos procuradores da Lava Jato, a tentativa de interferir nas eleições 2018 e as tentativas de forjar provas para incriminar Jair Bolsonaro e o complô contra Flávio Bolsonaro foi relevante para o Procurador-Geral da República, Augusto Aras, designar o subprocurador José Adonis Callou de Araújo Sá para acompanhar o inquérito 58 de 2021 do STJ e investigar os procuradores da Lava Jato. A portaria de designação foi publica no diário oficial da União na última terça-feira, 02 de março.
A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa do Ministério Público Federal que informou que “alguns veículos utilizam supostas mensagens para alinhar a atuação da força-tarefa ao governo Bolsonaro, enquanto outros as utilizam para apontar o contrário, o que só demonstra que o material de origem criminosa e sem autenticidade tem sido usado para criar diferentes teses, de acordo com o interesse político do veículo, mediante seleção, deturpação e edição dos materiais.”.
Veja a nota na íntegra:
- Os procuradores da República que integraram a força-tarefa Lava Jato reafirmam que não reconhecem a autenticidade e a veracidade das mensagens criminosamente obtidas por hackers que estão lhe sendo atribuídas. Os supostos diálogos constantes nessas mensagens, editados, descontextualizados e deturpados, vêm sendo utilizados de forma deliberada e sistemática para fazer falsas acusações contra a operação, sem correspondência na realidade, por pessoas movidas por diferentes interesses que incluem a anulação de investigações e condenações.
- No caso específico, ainda que os diálogos tivessem ocorrido da forma como apresentados – embora não se reconheça o seu conteúdo, seja pelo tempo, seja pela ordem em que são apresentados, seja pelo conteúdo – as mensagens levam a conclusão oposta à pergunta da repórter, uma vez que o texto enviado remete a propostas de combate à corrupção e defesa da democracia, pautas apartidárias.
- Não se pode deixar de notar que alguns veículos utilizam supostas mensagens para alinhar a atuação da força-tarefa ao governo Bolsonaro, enquanto outros as utilizam para apontar o contrário, o que só demonstra que o material de origem criminosa e sem autenticidade tem sido usado para criar diferentes teses, de acordo com o interesse político do veículo, mediante seleção, deturpação e edição dos materiais.
Sobre a autora:
Sandra Terena
é indígena, jornalista profissional diplomada, pós-graduada em Comunicação Audiovisual com ênfase em Cinema, especialista em Direitos Humanos pelo IPPDH. É autora do documentário Quebrando o Silêncio – Prêmio Jovem da Paz em 2009.
Foi repórter do Jornal Gazeta do Povo e assessora de Comunicação na Fundação Cultural de Curitiba. Foi Secretária Nacional da Igualdade Racial do governo Federal de janeiro de 2019 a setembro de 2020.