Felicidade é agora

Não existe uma fórmula para a felicidade, mas, na quarentena, a gente jura que sim. Que a felicidade é poder fazer tudo aquilo que não podemos agora. Sair para o barzinho, reunir os amigos, ir para a academia e conhecer gente nova. É meio cultural – sempre achamos que a felicidade é algo que não seja o aqui e o agora. Achamos que só vamos ser felizes quando atingirmos aquela promoção no emprego. Ou que só vamos estar contentes de verdade quando comprarmos aquele outro carro. Brindamos um ano velho acreditando que no seguinte seremos mais felizes, mas, quantas vezes paramos e concluímos “2014 foi melhor que 2015, sem sombra de dúvida…”? Quase sempre esquecemos de olhar para o que temos no momento.

Com a pandemia e o distanciamento social, fica realmente mais difícil se considerar feliz. É tudo muito novo, mas, temos que nos adaptar – é questão de sobrevivência. É a reunião online, o julgamento virtual, a aula EAD e até o happy hour pelo Google Meet. Sentimos falta do toque, do olhar, daquele aperto de mão que transmite segurança. Eu, particularmente, não gosto da expressão “novo normal” e nem de nada que veio com ela. Normal para mim é normal e ponto. Sem essa de “novo”. Normal é não morrer gente.

Tenho amigas que começaram a praticar yoga em casa, outras que começaram uma produção em massa de pão caseiro, algumas que viraram blogueiras de Instagram. E eu? Eu olho para tudo isso e acho incrível o poder de se reinventar. Tem dias que eu só consigo pensar nos números de óbitos e tomar mais ansiolítico para fugir da realidade. O tempo está difícil aqui na terra brasilis, meus companheiros.

É esse poder de se reinventar e acreditar que o ser feliz vai além do ir ao bar, reunir com os amigos e paquerar na balada. Não achar que está perdendo tempo de vida por estar em casa. Acreditar que tudo isso vai passar, como nas canções do Chico Buarque. Cuidar, cuidar muito. Ser feliz com o yoga, com o pão sovado, com o Instagram ou só com os ansiolíticos. Não se cobrar demais no cenário atual. Se distrair com o desenho animado que a filha assiste. Escrever e rasgar. Escrever e guardar. Escrever e mandar. Acordar com o pé direito e tomar um banho quente. Doar dinheiro para aquelas pessoas que estão precisando. Desejar feliz aniversário para os aniversariantes do dia, no Facebook. Lavar as mãos cantando Toxic da Britney Spears em frente ao espelho. Cortar cebola feliz. Cozinhar para quem ama. Assistir aquela série que está todo mundo falando. Ler jornal. Ler o livro preferido pela trigésima vez.

E se não der certo, acordar e tentar de novo.