O Líbano é um país que deu certo.

Eu gosto mesmo é de gente. De me debruçar sobre a vida de alguém que acabei de conhecer. Saber a descendência, o nome da mãe, o clube do coração, em quem vai votar para vereador e se gosta de segundas-feiras. Manicures, motoristas de Uber, recepcionistas. Raras as vezes que saio sem saber nada sobre a pessoa e levar comigo alguma lição.

Sou da ideia de que todos têm algo para dar, por mínimo que seja. Todos que passam pela nossa vida nos deixam um pouco de si. Assim como nós contribuímos com o outro, na medida em que damos abertura.

Acho que sou meio política. Escuto sempre com o mais profundo interesse. Sinto vontade de conversar por horas. Gente. É isso. Eu gosto mesmo é de gente. Eu sinto por elas. Sinto muito.

Eu gosto de segundas-feiras. Trato como se fosse um pequeno ano novo. Uma nova chance de fazer tudo e melhor, todas as semanas. Quase sinto o cheiro dos fogos quando o despertador toca.

Na última segunda, por exemplo, eu aprendi a mexer no Google Meet. Agora, frequento aulas e reuniões com a câmera ligada, para não deixar as pessoas falando para uma tela. Afinal, temos que tentar dar, pelo menos, o mínimo de calor para o outro nesses tempos quarentenados, né? Eu aprendi a mexer com a panela de pressão sem receios. Comecei a montar prateleiras e móveis. Me apaixonei pelo Guga Chacra e quero comprar A House of Many Mansions para ler. Decidi escrever um artigo em Direito Administrativo e estou conhecendo coisas novas. Mudei a cor do esmalte.

Mas na última segunda-feira eu não deixei de ir no Mc Donalds, nem fiz exercícios físicos. Não li Dostoiévski. Não larguei a compulsão por Trident de melancia. Não larguei o Lítio e não faltei à análise. Não marquei de ir conhecer o Líbano com a minha filha.

Nada disso importa, agora. Eu não conhecia o Ahmed, morto na explosão. Eu não sabia que ele morava tão próximo ao porto. Não sabia que morreria ele e todos os seus sonhos depois de uma luta intensa no hospital. Não sei o nome da sua mãe, se gosta de segundas-feiras ou qual é seu clube do coração. Eu não sabia que depois de Bolsonaro, Trump e COVID ainda teríamos uma explosão desse tamanho.

O Líbano é um país que deu certo. Um povo que deu certo.

Em 2021 eu vou ao Líbano. Isso. Nada de Mc Donalds, exercícios ou Dostoiévski. Nada de Trident de melancia.

O Líbano.