O que ela quer da gente é paciência, meu caro Rosa.

Hoje é um bom dia e são só 11h30. Porque eu mudei de lugar. Mudei de sapato. De roupa. Mudei o lado para qual eu costumava repartir o cabelo e fui correr de manhã, na Sete de Setembro. Comi um ovo no café e abri a janela. Senti o sol e percebi que ela chegou. Um dia, ela chega para todos. E assim como canta Gilberto Gil, em seu Eterno Deus Mu Dança, chegou a minha vez. Hora de se levantar e encarar.

A mudança me chegou sorrindo, em uma segunda-feira. E eu não poderia fazer menos do que recebê-la de braços abertos. Trocar o chá da manhã por um café preto, forte. Trocar a rota que eu faço até o escritório. Pintar as unhas pela segunda vez na quarentena. Adiantar os trabalhos da semana. Escrever uma mensagem para aquela amiga com quem não falo há tempos.

Estamos tão acostumados com a nossa maneira de ser e nossos trejeitos tão particulares que, realmente, nos recusamos a olhar e aceitar que precisamos mudar algumas coisas. Coisas que podem ser tão penosas para quem convive conosco. Eu gosto de dormir do lado esquerdo da cama e não gosto de ficar dando explicações sobre o meu dia. Eu gosto de sorvete do Mc Donalds pelo menos uma vez por semana e não gosto de demoras para responder mensagens. Fico emburrada com respostas curtas e acho que o amor é urgente e inegociável.

O que é importante e inadiável para nós, nem sempre é para o outro. E a gente tem que aceitar. Guimarães Rosa, no Grande Sertão: Veredas, diz que o que a vida quer da gente é coragem. Eu roubaria a frase e acrescentaria – e paciência. Muita paciência, meu caro Rosa.

Paciência com aquilo que não pode ser mudado. Com aquilo que exige esforço para ser acertado. Com o outro e com nós mesmos. Eu tenho tentado exercitar minha paciência. Principalmente com as mudanças que aparecem e a gente precisa abraçar. E nada mais atual do que falar sobre mudanças, nesses tempos de Coronavírus e isolamento social. Máscaras para todos os lados e o álcool em gel é meu pastor e nada me faltará. Fomos todos pegos de surpresa e, sem passar por pedagogia alguma, obrigados a viver de uma nova forma.

Eu acho a capacidade de mudar e se adaptar às mudanças uma coisa admirável. Quem consegue sem muito alarde é realmente forte. A ideia de mudança está intimamente ligada com a nossa paciência. Paciência para aceitar que, como diz um breve personagem do filme “Todas as Mulheres do Mundo”, do gênio Domingos Oliveira – “só porque as coisas foram certa vez, não têm a obrigação de continuar sendo”.

E seguimos assim, como o personagem que aceitou com maestria as mudanças que vêm com o tempo. Seja trocando o chá pelo café, dormindo do lado direito da cama ou dispensando o sorvete semanal do Mc Donalds ou até alguma mudança mais radical como passar a assumir uma postura diferente com alguém que importa para nós. Mas, é importante lembrar, sempre: a mudança só é de verdade quando é por nós.