Solidão e solitude
Vinícius de Moraes nos ensinou que um bocado de tristeza é necessário, para fazer um samba ou para viver um grande amor. E eu, parafraseando Amy Winehouse, digo que toda tristeza e solidão é um texto esperando para ser escrito (ou um Blues esperando para ser feito). A solidão é uma injeção de inspiração para qualquer arte, mas, para isso, precisa estar na medida certa.
Nos Estados Unidos, 45% de toda a população se sente sozinha. Talvez nosso retângulo-companheiro-hiperconectado tenha exercido uma influência significativa nessa sensação. Nós temos, nas redes, mais de 3.000 amigos que não são de verdade. Antes de dormir, eu me sento e escrevo para algum leitor que eu não conheço. A relação carne e osso já ficou em segundo plano. Eu não quero saber só sobre a forma como você posiciona as vírgulas ou como sua gramática é perfeita. Quero saber se você quer pedir o café com ou sem açúcar, se você tem tatuagem no antebraço, se os seus fios de cabelo já estão ficando brancos e se você curte caramelo salgado com água com gás (e gelo). Quero ver como você aperta a sobrancelha para falar mal de algo que não gosta, ou a forma com vira os olhos para ser irônico. Quero touch – e não o do iPhone.
Solidão nunca é benção. Nossa língua portuguesa foi clara ao distinguir. Solidão é o estado de tristeza que nos encontramos por estarmos sozinhos. Solitude é a glória da privacidade de se estar só. A solidão é um sentimento subjetivo. Podemos estar no Maracanã lotado e ainda nos sentirmos só. É o íntimo. E ninguém pode negar.
Para mim, a verdadeira solidão você encontra na glória e não na tristeza. E falo isso com a propriedade de quem cita Domingos Oliveira – “é mais fácil você ter companhia para o perrengue do que para a glória”. E eu me explico, veja, quando você conquista algo que esperava há muito tempo, para quem você liga primeiro? Quando seu time ganha um mundial de clubes, de quem é o primeiro abraço? Você passa no concurso que estava estudando há mais de 5 anos, ou naquela prova em que você estudou muito e conquistou um 10. Para quem você liga? Quem, genuinamente, quer dividir essa alegria com você? Quem realmente quer estourar um champanhe, bater palma e comemorar a alegria da glória com você? A solidão está aqui. O primeiro número que você disca para falar “meu bem, eu consegui!”.
Quando o número que já foi o primeiro na sua lista dos favoritos já não chama mais, você sente o baque de não poder ligar para gritar a sua alegria. Seja do carro recém saído do mecânico ou da aprovação de um trabalho. A tampa do champanhe não estoura alto. As palmas não batem. Aí, você percebe – essa é a solidão, não a solitude.