Insumos do ‘kit intubação’ têm alta de até 467% e hospitais temem desabastecimento no RS

Insumos utilizados na intubação de pacientes internados em UTIs tiveram alta de 33% a 467% nos preços entre 2020 e 2021, conforme levantamento da Federação das Santas Casas do Rio Grande do Sul (veja tabela abaixo).

Diante dos valores elevados e da baixa oferta do chamado "kit intubação", composto por sedativos, relaxantes musculares e anestésicos, hospitais do estado temem o desabastecimento das unidades.

Na avaliação do presidente da entidade, que reúne também hospitais beneficentes, religiosos e filantrópicos, o problema pode afetar o tratamento de pessoas com coronavírus e outras doenças. Luciney Boher afirma que a situação preocupa instituições dos mais variados portes.

"A dificuldade em poder fazer o enfrentamento deste momento que estamos atravessando é do hospital pequeno, do hospital médio e do hospital grande. Cada um na sua proporção do atendimento e na sua complexidade", relatou.

O diretor do Departamento de Assistência Farmacêutica da Secretaria Estadual da Saúde (SES), Roberto Schneiders, observa que a alta nas internações por Covid-19 nas últimas semanas aumentou a pressão sobre o sistema.

Às 11h07 desta quinta-feira (11), o RS tinha 2.491 pacientes intubados em respiradores de UTIs. O número equivale a 76% do total de 3.262 internados em leitos críticos.

"Devido ao alto número da taxa de internações que nós tivemos no estado, com a ampliação de leitos, houve um consumo, logicamente, muito mais elevado desses medicamentos", explicou.

De acordo com a SES, "uma pequena porcentagem" dos 290 hospitais do RS está com problemas críticos de abastecimento. O número varia conforme a disponibilidade de cada um dos 22 medicamentos monitorados nas instituições.

O governo do RS ainda afirma que, apesar da compra ser de responsabilidade das unidades de saúde, está trabalhando para adquirir os insumos de forma emergencial.

Na manhã de quinta-feira, G1 procurou o Ministério da Saúde, para obter informações sobre o abastecimento da rede hospitalar, o financiamento dos insumos e a política de preços do mercado farmacêutico.

Na tarde desta sexta (12), a pasta respondeu afirmando que monitora o abastecimento dos medicamentos utilizados na intubação de pacientes e que apoia os estados com maior dificuldade logística (veja nota no final da reportagem).

Custo dos insumos

Os principais itens em falta no mercado, segundo a Federação das Santas Casas, são os bloqueadores neuromusculares Atracurio e Besilato de Cisatracúrio, o sedativo Midazolam e o relaxante muscular Pancurônio.

Além disso, os hospitais encontram dificuldades para adquirir os relaxantes Rocurônio e Succinilcolina, o anestésico Propofol, bem como cateteres e cânulas (tubo de metal) utilizados nas UTIs.

Segundo Luciney Boher, que também dirige o Hospital de Clínicas de Passo Fundo, no Norte do RS, a aquisição dos itens do kit toma mais da metade dos recursos disponibilizados pelo Ministério da Saúde para o atendimento diário de um paciente.

"O paciente intubado neste grau que temos hoje, em relação à Covid-19, está gastando, em média, de R$ 850 a R$ 900 só com este kit, estas medicações. Ou seja, os hospitais estão recebendo R$ 1,6 mil do Ministério da Saúde e gastando em torno de R$ 850", informou.

Conforme o diretor do Departamento de Assistência Farmacêutica da SES, a questão da variação dos preços só pode ser observada pelo governo federal, na Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), .

"É competência da União fazer esse monitoramento e ver se tem, eventualmente, a cobrança de taxas abusivas no mercado", explicou.

Ainda segundo Roberto Schneiders, a SES faz um mapeamento semanal dos estoques nos hospitais. O estado também pediu que os fabricantes informem a situação da produção dos insumos. As medidas têm como objetivo auxiliar a distribuição dos produtos entre unidades com maior e menor disponibilidade.

"Com esse levantamento mais detalhado, vai se tornar muito mais precisa a ação que o estado, os municípios, a União e os hospitais precisam fazer", disse.

Desde o início da pandemia até esta quarta-feira (10), o Rio Grande do Sul já registrou 14.087 óbitos e 713.614 casos de Covid-19. A taxa de ocupação nas UTIs era de 106% às 11h07 desta quinta.

Nota do Ministério da Saúde:

"O Ministério da Saúde informa que, de forma proativa, mantém o monitoramento semanal do abastecimento de medicamentos de intubação orotraqueal (IOT) em todo o Brasil.

Semanalmente, a pasta recebe dados enviados pelost Conass e Conasems com o consumo médio mensal de estados e municípios e ainda conta com as informações de produção e venda publicadas pela Anvisa. Dessa forma, o Ministério da Saúde faz o planejamento para aquisição desses insumos, apoiando estados com maior dificuldade logística.

Cabe informar, ainda, que toda semana, a pasta envia informações para as Secretarias de Saúde estaduais contendo a lista com a localização dos distribuidores de todos medicamentos de intubação orotraquial."