Damares Alves é anunciada para o Ministério dos Direitos Humanos de Bolsonaro

Pastora e advogada, ela tem um histórico de lutas pró-vida, pró-família  e em favor da causa indígena no resgate de crianças que estavam sob risco de morte. Aos seis anos de idade foi abusada sexualmente e fez de sua dor a sua bandeira

De Brasília, Oswaldo Eustáquio

O Ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni anunciou nesta quinta-feira (6) o nome de Damares Alves para assumir o ministério Ministério dos Direitos Humanos, Família e Direitos da Mulher. A nova ministra também será responsável pela Fundação Nacional do Índio (Funai) Ainda nesta terça-feira (4), Damares ligou para Bolsonaro aceitando o convite feito na semana passada. Uma das principais ativistas pró-vida e pró-família da história do Brasil, Damares dedicou uma vida toda pelas bandeiras da vida no Congresso Nacional, aonde chegou em 1988, há mais de 30 anos.

Damares Alves sendo anunciada no Ministério dos Direitos Humanos do governo Bolsonaro

O trabalho de da futura ministra ganhou destaque em todo Brasil pelas denúncias de abusos do governo petista na tentativa de atropelar o Congresso em pautas polêmicas como a legalização das drogas e do aborto. Foi a principal voz conservadora que desbravou o Brasil, nos governos Lula e Dilma.

Ainda nos anos 1990, Damares chamou a atenção do Brasil e da ONU para a questão do infanticídio nas aldeias indígenas junto ao Congresso Nacional. Passou a intermediar o resgate de crianças que seriam mortas por terem algum tipo de deficiência ou serem filhas de mãe solteira.

Alinhamento Ideológico

Com posicionamento ideológico alinhado com a do presidente eleito Jair Bolsonaro e reconhecida por uma conduta ilibada, o nome de Damaresfoi cotado para o Ministério ainda na semana passada. Enquanto parte da imprensa tentava reduzir Damares à condição de “assessora de Magno Malta”, e “pastora”, pinçando frases dela para pintar um retrato que não condiz com seu histórico de décadas de lutas dentro do Congresso Nacional.

De acordo com notícia veiculada no Gospel Prime, alguns parlamentares chegaram a dizer que Bolsonaro não deveria escolhê-la, preterindo alguém com mandato eletivo. Contudo, esse mesmo tipo de crítica não foi feita quando o capitão anunciou militares ou quadros com perfil técnico como o juiz Sérgio Moro e o astronauta Marcos Pontes para serem ministros.

O grande desafio de Damares será retomar as verdadeiras pautas de defesa dos Direitos Humanos, transformadas em mera “defesa das minorias” nos governos do Partido dos Trabalhadores. Além disso, sabe que receberá mais cobranças que a última mulher a ocupar o posto, Luislinda Valois, que teve passagem apagada pela pasta.

Assim que o nome da pastora foi cogitado, cerca de 200 entidades manifestaram seu apoio, incluindo ONGs, grupos pró-vida, ativistas da causa indígenas, ciganos e entidades de luta pelos diretos de portadores de necessidade especiais.

Tudo isso fruto do trabalho que ela desenvolveu nos “bastidores” de Brasília, cerrando fileiras com a Frente Parlamentar em Defesa da Vida e da Família, além de movimentos como Brasil Sem Aborto e Brasil sem Azar.

Consenso

O reconhecimento é tanto, que o presidente da Aliança Nacional LGBTI, Toni Reis, dizia que não haver oposição ao nome de Damares dentro do seu movimento.

 

Referência nos Direitos Humanos

A luta de Damares no resgate de crianças indígenas é digno de Nobel da Paz.  Foi em conjunto com Márcia Suzuki, uma das linguistas mais respeitadas do mundo. Na época uma Muwaji Suruwahá, de um povo até aquela época considerado semi-isolado, queria trazer sua filha Iganani para fazer um tratamento de saúde, mas a Funai, de forma equivocada, não queria permitir. “A Damares nos deu todo apoio para gente se mudar para Brasília e apoiar a luta de Muwaji, inclusive nos emprestando seu próprio apartamento, que acabou sendo a primeira “sede” do nosso movimento – Atini – Voz pela Vida. Foi ela quem nos abriu as portas do Congresso, nos colocou em contato com parlamentares e outras autoridades e nos ajudou a amplificar a voz de Muwaji. Aí outros indígenas começaram a chegar. Pais, mães, caciques começaram a ligar pedindo ajuda para salvar a vida de crianças e a partir daí fundamos a ATINI”, disse Márcia Suzuki.

Esperança

Para a jornalista Sandra Terena, presidente da ONG Aldeia Brasil e autora do documentário Quebrando o Silêncio que desmentiu o governo brasileiro, na época governado pelo PT, a escolha de Damares para os Direitos Humanos é uma grande conquista para os povos indígenas, para as mulheres, enfim para o Brasil. “A Damares ama tanto o nosso povo que adotou uma filha indígena. Ela conhece as reais necessidades das aldeias brasileiras. Creio que a nomeação da nova ministra rompe um paradigma histórico e vai gerar esperança para todo o nosso povo”, disse Sandra Terena.

 A pequena Lulu, filha de Damares já se tornou uma linda mulher. Hoje, aos 20 anos, a pequena indiazinha guerreira, que chegou a ser enterrada viva em uma aldeia Kamaiurá e foi resgatada pelo projeto ATINI – Voz Pela Vida – hoje se prepara em uma escola especial de multiculturalismo para trabalhar em defesa das crianças do seu povo, as crianças indígenas. A história emocionante é exemplo para dezenas de mães indígenas que decidiram levantar uma bandeira em prol da vida.

Ministra foi abusada sexualmente aos seis anos de idade

Nascida em 1964, Damares Alves é uma mulher tipicamente nordestina. Filha de um pastor e uma dona de casa, de nome Guilhermina, a futura Ministra  cresceu morando em diversas cidades do Nordeste.

 

Em entrevista ao jornalista Jônatas Dias Lima do Portal Sempre Família, ligado ao maior grupo de Comunicação do Paraná – GRPCOM, Damaresdisse que fez de sua dor a sua bandeira. Aos 6 anos de idade foi abusada sexualmente. O resultado dos abusos impossibilitaram que ela gerasse uma criança no útero. Vencendo as dificuldades, estudou e se formou como educadora e advogada, vindo a trabalhar como assessora parlamentar por muitos anos.  No Congresso Nacional sempre ergueu a bandeira dos direitos humanos.  Ela teve a coragem de quebrar o silêncio e trazer para a sociedade e para o Parlamento o debate sobre o infanticídio indígena e a falta de assistência médica e a dignidade humana das pessoas com deficiência em meio aos povos tradicionais. 

A nova ministra começou a luta pelos Direitos Humanos ainda na adolescência. Aos 12 anos já tinha um olhar atento para as crianças excluídas e aos 13 anos já estava envolvida em ações de combate à desnutrição e desidratação de crianças no Sertão da Bahia. Na Década de 1980 ela já era líder de movimentos contra o aborto e de prevenção às drogas.