Em primeiro dia de “lockdown”, população demonstra compreensão e cumpre medida no Capivari, Jaguatirica e Ribeirão Grande

O primeiro dia após o decreto do lockdown em regiões da área rural de Campina Grande do Sul foi marcado pela tranquilidade da população. Moradores das localidades do Capivari (Barragem), Jaguatirica e Ribeirão Grande têm demonstrado compreensão diante da gravidade e da ameaça apresentada pela pandemia do novo coronavírus.

Cerca de 4.800 moradores vivem na região onde a medida foi instituída. Durante pelo menos 15 dias, período inicial de duração do decreto, as pessoas só podem sair de suas casas para comprar alimentos, remédios, produtos de limpeza e higiene, para comparecer a consultas médicas, sacar ou depositar dinheiro e para trabalhar. Sempre utilizando máscaras.

Equipes da Guarda Civil Municipal (GCM) estão estrategicamente posicionadas nas entradas dos bairros, realizando o trabalho de orientação a população, com o objetivo de instruir os moradores a permanecerem isolados em suas casas.

A medida restritiva tem por objetivo a contenção do avanço descontrolado da pandemia do novo coronavírus (COVID-19). O decreto pode ser prorrogado de acordo com a situação epidemiológica do município. 

O lockdown na região do Capivari (Barragem), Ribeirão Grande e Jaguatirica mantém em funcionamento apenas alguns estabelecimentos, tais como mercados, supermercados e similares, agropecuárias, farmácias, serviço funerário, transporte coletivo de passageiros – inclusive serviços de táxi e transporte remunerado privado individual, distribuidoras e revendedoras de gás, panificadoras, postos de gasolina, comércio de prestação de serviços essenciais e fornecimento de alimentação, localizados às margens da Rodovia Régis Bittencourt (BR-116). 

O mestre de obras Luiz Joaquim Ribeiro, de 38 anos de idade, aprovou a medida. “Só assim para que as pessoas entendam a gravidade da situação aqui na Jaguatirica. Acho que agora todos irão criar consciência”, atesta o morador.

O decreto foi assinado e publicado pelo prefeito BIhl Zanetti, um dia após mãe e filha, de 84 e 64 anos de idade, respectivamente, irem a óbito por causa da COVId-19. Situação que ocorreu na última terça-feira (12). Elas eram moradoras na localidade da Jaguatirica e estavam internadas desde a semana passada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital Nossa Senhora do Rocio, na cidade de Campo Largo. 

O prefeito Bihl Zanetti decidiu aplicar o lockdown como estratégia mais rígida para evitar que a pandemia se alastre na área rural do município. “A decisão foi tomada considerando o número de casos e o número de óbitos já registrados na região. O tempo todo, até agora, trabalhamos no sentido de buscar o equilíbrio entre a saúde das pessoas e a liberdade econômica. Mas a prioridade é a vida”, declara o prefeito. 

Uma outra paciente, também filha da vítima de 84 e irmã da mulher de 64 anos, segue hospitalizada em estado grave, respirando com ajuda de ventilação mecânica. Ela tem 58 anos de idade e é também residente na Jaguatirica.

Ainda neste caso, o marido da paciente morta, após exame realizado, testou positivo e encontra-se isolado em sua própria residência. O homem, de 54 anos, estava até poucos dias na região do Vale do Ribeira, onde trabalhava. A suspeita é de que ele tenha contraído lá o vírus e então, servido como vetor para familiares. 

A nora do casal, uma jovem de 23 anos, moradora do Jardim Paulista, também teve comprovado o contágio com o vírus, mas sem manifestar a doença. Mesmo assim, ela permanece em absoluto distanciamento social em sua casa. 

Em Campina Grande do Sul, o número de casos confirmados do novo coronavírus é de 13 registros, com cinco recuperações e três óbitos. Os dados foram confirmados pelo boletim epidemiológico da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), nesta quinta-feira (14). 

MEDIDAS

A Prefeitura tem buscado atender as demandas geradas por conta da pandemia do novo coronavírus e seus efeitos colaterais, principalmente na economia local. 

O município tem realizado a sanitização de ruas e locais de maior concentração da população. A ação tem o objetivo de proteger a população e reduzir a circulação do vírus. O procedimento conta com um composto químico a base de hipoclorito de 5ª geração. Mesmo produto utilizado na Europa, China, Estados Unidos e em algumas regiões do Brasil, onde observou-se o achatamento da curva de contaminação tendo como aliada esta iniciativa.

O decreto prevendo a obrigatoriedade do uso de máscaras faciais na cidade, a iniciativa da Prefeitura ao comprar os acessórios de costureiras do próprio município – como forma de ajudar a aquecer o comércio local, além de estimular o uso das máscaras para servidores municipais, em especial nas áreas de Saúde, Defesa Civil, Segurança e Ação Social – a regulamentação do funcionamento do comércio, a distribuição de kits merenda e de higiene, a instalação de um serviço de atendimento telefônico para tirar dúvidas sobre a doença e o adiamento em dois meses para o pagamento do IPTU fazem também fazem parte do conjunto de medidas.

Emergencialmente, a prefeitura tem distribuído ainda o cartão “Comida Boa”, programa do governo do estado que possibilita a moradores, conforme o preenchimento de determinados critérios que comprovem situação de vulnerabilidade social, a aquisição de produtos alimentícios, por meio de um vale-compras no valor de 50 reais. A estratégia, além de ajudar a garantir alimentação às pessoas, é gerar um mínimo de reação no comércio regional, já que os valores devem ser gastos em mercearias, mercados e supermercados do município. 

ÓBITOS

Campina Grande do Sul já registra três óbitos provocados pela COVID-19. Além da mãe e filha moradoras na Jaguatirica, um homem de 84 anos de idade, morador do bairro Paiol da Baixo (Terra Boa), também localidade do interior da cidade, morreu no final do mês passado, após permanecer em estado grave internado no hospital Nossa Senhora do Rocio por quase duas semanas. 

CASOS

Gráficos preparados pela Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde revelam que Campina enfrenta o pico da doença, com o maior número de registros de COVID-19 em um menor espaço de tempo, desde que o primeiro caso foi identificado, no dia 3 de março. Ainda conforme o levantamento, 70% dos registros correspondem a pacientes do sexo feminino.