Feiras orgânicas da Prefeitura fortalecem agricultura familiar

Duas vezes por semana, o casal de agricultores Vanuza e Lourival Stival de Jesus acorda às 3h20 da manhã para seguir de seu sítio em Almirante Tamandaré rumo à Curitiba. À bordo do pequeno caminhão dos produtores da Região Metropolitana, caixas repletas de alface, brócolis, repolho, abobrinha e muitos outros hortigranjeiros fresquinhos e livres de agrotóxicos. O destino final: as feiras orgânicas da Prefeitura. 

A rotina semanal de Vanuza, 37 anos, e Lourival, 40 anos, também é seguida pela maioria dos feirantes das 13 feiras orgânicas administradas pela Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento (Smab). Afinal, os agricultores familiares representam 90% dos comerciantes destes pontos que vendem frutas, verduras e legumes livres de adubos químicos ou insumos geneticamente modificados.

“Uma das missões da secretaria é fortalecer a agricultura familiar e, no caso das feiras orgânicas, a grande maioria dos feirantes também é produtor, que vende alimentos in-natura ou processados”, destaca José Carlos Koneski, diretor de Abastecimento da Smab e responsável pelos pontos. Além das bancas de hortifrutigranjeiros de produtores, também há comerciantes de carnes e até cosméticos orgânicos.  

Em sua chácara em Tijucas do Sul, Emerson Schonorr, 43 anos, cultiva há 18 anos cenouras, alfaces, brócolis, espinafres, cebolas, nabos, rabanetes, jilós, inhames, rúculas e couves-flores que são vendidos às terças na feira de orgânicos do Seminário, às quartas na Praça do Expedicionário e aos sábados na do Passeio Público. Ele conta que a maioria dos produtores da região planta hortigranjeiros. “Já boa parte das frutas, como maçã, laranja, maracujá, limão e mamão, não é produzida aqui, vem de locais mais distantes e até de outros estados. Por isso, a oferta de frutas é menor se comparada ao de legumes e verduras”, conta Emerson.

Segundo ele, tomate e batata também têm volume reduzido de produção, pois são mais suscetíveis a doenças, como a temida pinta-preta. “Como não usamos fertilizantes sintéticos, agrotóxicos e transgênicos, esses produtos sofrem mais e acabam tendo muita quebra de safra”, justifica ele, que tem planos no futuro de passar a produzir os dois alimentos.

Os ovos orgânicos produzidos pela família de Célia Maria Ripcka, 55 anos, em Mandirituba, têm fregueses certos nas feiras da Praça do Expedicionário e do Passeio Público. Livres de antibióticos e produzidos por duas mil aves que se alimentam apenas de milho e farelo de soja orgânicos, os ovos são muito mais firmes e as gemas mais vermelhas que as dos convencionais, afirma a agricultora. “Também não têm aquele cheiro de remédio que muitos vezes sentimos nos ovos comuns”, confirma a aposentada Stela Mares, 78, que sempre leva para casa os ovos e outros hortifrutigranjeiros comercializados por dona Célia e o marido Osvaldo, 61 anos.

Massa caseira

Dona de uma agroindústria em Campo Magro, a família Escher comercializa em sua banca, em três pontos de Curitiba, leite, pão, geleias e extrato de tomate – tudo sem agrotóxicos. “Nossa última novidade, é a linha de massas caseiras, inclusive integral, orgânica”, conta Maria Salete Escher, 56 anos, enquanto mostra as bandejas com talharim e espaguete. “Tudo é certificado, o que garante que nossos produtos são realmente orgânicos”, reforça a produtora rural, que cuida pessoalmente do processamento dos alimentos livres de insumos e adubos químicos ao lado do marido, Adelmo, 62 anos; e dos filhos Juliana, 36 anos; Luciano, 32 anos; e Juliano, 29 anos.  Os produtos podem ser encontrados nas bancas da família Escher, às quartas, na Praça do Expedicionário; e aos sábados, no Passeio Público e no Jardim Botânico.

Vanuza e Lourival Stival de Jesus começaram a plantar orgânicos, há 16 anos, no sítio do casal em Almirante Tamandaré. De lá para cá, só comemoram o aumento da procura dos alimentos sem agrotóxicos. “Começamos em um terreno bem pequeno e hoje plantamos em uma área muito grande alface, brócolis, couve-flor, repolho, acelga, abrobrinha, pepino e até morango”, salienta Vanuza.

O casal vende os produtos nas feiras da Praça do Expedicionário e da Emater (às quartas), cada um em um ponto, e no Passeio Público (aos sábados). Além disso, a família começou a processar o tomate produzido, que agora é molho em potes. “Estamos buscando diversificar”, salienta a agricultora.

Como saber se é um produto orgânico?

Mais do que estar livre de agrotóxicos, os alimentos orgânicos, sejam in natura ou processados, precisam passar por constante processo de auditoria para serem certificados como, de fato, orgânicos. O selo do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica garante que um produto processado ou embalado está mesmo de acordo com a lei.

Para receber o selo, o Ministério da Agricultura, por meio de certificadoras, garante que um produto não recebeu adubos químicos, agrotóxicos, hormônios, antibióticos, insumos geneticamente modificados, radiação ou qualquer aditivo sintético. Produtos a granel devem ter uma identificação, como plaquinhas indicando que também estão em conformidade.

Os orgânicos são sustentáveis?

Sim. A produção orgânica, feita na maioria por agricultores familiares, segue os princípios agroecológicos, com uso responsável do solo, da água, do ar e dos demais recursos naturais, respeitando as relações sociais e culturais.

Preço

No sistema orgânico, é preciso buscar uma solução que não envolva produtos sintéticos, que barateiam a produção dos alimentos convencionais.

A diferença de filosofia também retrata os diferentes sistemas de produção. Por depender essencialmente de capinas manuais e de controles alternativos de pragas e doenças, a produção orgânica exige um grande volume de mão de obra.

Além disso, o maior custo de adubos orgânicos, o menor volume transportado e a menor durabilidade tornam o produto final mais caro. Assim, o sistema orgânico produz de forma mais saudável, porém em menor quantidade. O volume menor afeta diretamente a distribuição e o preço final, além do custo de certificação (que inclui o rastreamento da produção).

Os preços dos orgânicos baixaram consideravelmente, nos últimos anos, mas os custos sempre serão mais elevados que os da agricultura convencional.