Corda bamba

Estamos há quase quatro meses em isolamento social. Alguns cumprem à risca, fazendo apenas o essencial – indo ao mercado, farmácia e padaria. Outros, furam e saem para ir em restaurantes, bares e shoppings. Cuidar da saúde mental, ter uma rotina certa, dar conta dos estudos e ter uma skincare em dia é um desafio tão grande quando se equilibrar em uma corda bamba, fazendo malabares, enquanto pedala uma bicicleta.

No meio de tudo isso, estamos nós – as mães. Não basta acordar, passar um café e ir viver o dia para tentar cumprir todas as tarefas. A gente acorda e cuida da rotina de outra pessoa, além da nossa. Mamadeira e café. É como se a bicicleta pedalada na corda bamba tivesse apenas uma roda.

Se antes da quarentena já existiam as chamadas “mães polvo” (aquelas que têm várias mãos, para fazer muitas coisas ao mesmo tempo), agora, somos todas mães polvo. Sem hashtag, mesmo – porque tem dias que não dá nem para postar nas redes sociais.

Vamos redigir um e-mail e uma mãozinha aperta o teclado do computador e clica em enviar: “Boa tarde, chefe. Segue a planilha do dia 19, atenciosameihfdsaondjsasad”. Foi. Já era. Agora é um e-mail com pedido para desconsiderar aquele final. São os dedinhos pequenos que, se não observados, podem fazer grandes artes.

É colo. Muito colo. É o suco de laranja que tem que ser espremido na hora. É o almoço. É o não querer comer o almoço hoje. É a garganta que apareceu inflamada de uma hora para a outra. É o deixar aquela prova virtual para depois porque precisa correr para o pronto socorro com o rebento chorando. É o medo do COVID. É brincar junto, mesmo tendo um milhão de coisas para fazer no computador. É mandar o computador arrumar porque o suco de laranja, espremido na hora, caiu no teclado. É ficar 2 semanas sem o computador. É esperar ansiosamente a resposta do pediatra no WhatsApp porque a garganta está com pus. É lembrar, 5 episódios de Peppa Pig depois, que precisava ter mandado aquele e-mail.

Ninguém aguenta mais o isolamento social. Isso é um fato. Mas as mães… As mães, meu querido amigo, estão exauridas. E não é reclamar da função não. É não querer romantizar, mesmo. Porque ser mãe é isso. Ser mãe é pedalar a bicicleta de uma roda, fazendo malabares na corda bamba. Ser mãe é fazer dormir de mãos dadas. É continuar assistindo Discovery Kids depois da criança dormir e nem se dar conta. É esfriar muito almoço. É errar tentando acertar. É acertar mesmo errando. Ser mãe é punk. Ser mãe em tempos de pandemia é quase ser super-heroína.