Eterno Deus Mu Dança
Acordei. Olhei para o lado, meu celular estava na tomada. Para o outro, minha filha, dormindo no berço. Olhei durante uns 10 minutos para o teto e respirei fundo. Na tela, mensagens de amigos perguntando como eu passava. Ouvi, longe, o barulho da máquina de café da minha mãe. Coloquei os dois pés no chão e cuidadosamente fui para o banheiro. Me olhei no espelho. O mundo não acabou. Respondi as mensagens e dei início ao meu dia. Hoje, brincos pretos. Coloquei meu Podcast preferido para tocar no som do carro e dirigi sentido à faculdade. Evo Morales renunciou por pressão, caracteriza golpe? Contragolpe? O quê a Constituição da Bolívia diz? Será que golpe é só aquele característico dos anos 70 com tanque nas ruas e fechamentos forçosos de instituições? 4ª reeleição? Chego na faculdade e o pensamento sai da Bolívia e entra no meu livro novo (novo porque é daqueles que a gente compra em uma tacada de 4 e demora para mexer) que fala sobre emendas e o tanto que a Constituição Brasileira é enorme perante às demais do mundo. Imersa em gráficos, dados e referências (porque não há nada melhor que se afogar nos nossos assuntos acadêmicos favoritos quando estamos deprimidos), eu vejo você. Você e a sua garrafa de café. E o mais importante, você também me vê. Eu não faço ideia do seu nome, não sei se você se importa com o Evo Morales ou com a galera fazendo vigília em El Alto. Não sei nem sei você faz o estilo constitucionalista ou é mais da galera do empresarial (e é uma linha tênue que divide os homens do direito público e privado, uma palavra errada, tudo já vai por água abaixo). Não sei se você é do estilo mais ortodoxo, tipo aqueles que admiram o texto constitucional e não gostam nem do termo “advocacia 4.0”. Nem sei, também, se você fala mal da galera que estuda por manual simplificado. Será que você é fã do Lenio Streck ou tem duras críticas? É que pra conversar comigo, tem que saber que de 10 referências, pelo menos 5 eu tirei dos livros dele. E eu tenho quase todos. Será que você gosta de futebol americano? Eu não entendo nada. Em compensação, comento futebol como quase ninguém, tá? Você está indiferente com a saída do Tiago Nunes? Eu estou apostando no River para a final da libertadores – até agora não errei os palpites –. Eu olho pra você e penso, em qual praia será que você passa o Ano Novo com a família? Você já foi pra Ferrugem? Eu não. Mas, estou numa pira de reinvenção e, considerando fortemente, passar o carnaval por lá. Eu nem costumava gostar de Carnaval. Ainda estou pensando se eu gosto. E isso aí, na sua garrafa, é café ou água? Eu adoro café. Mas, tomo na “temperatura kids” que tem lá no Starbucks, sabe? Falando nisso… Nova Iorque. Você já foi? Podíamos largar tudo agora mesmo e sair correndo para lá, não? A gente deixa essa faculdade e o resto, depois, a gente vê. Meu boné dos Yankees é peça chave do guarda-roupas.
A inconsequência virou minha amiga mais chegada nos últimos 4 anos, mas, nessa onda de reinvenção, eu permito me apresentar diferente. Tipo aquela música do Gilberto Gil… O eterno Deus mu-dança… Eu firmei os dois pés e vim. Porque teve Lula Livre, teve Tiago Nunes fechando com o Coringão, teve uma cirurgia de emergência no meu rim na última sexta, teve minha saída e volta para as redes sociais, teve a renúncia do Evo e agora tem eu, aqui.
Muito prazer, eu me chamo Caroline e acabei de chegar.