“Lulu vive com Damares com o nosso aval. Somos uma grande família”, diz pai indígena

Os pais indígenas de Lulu Kamayurá foram a Brasília neste final de semana para encontrar a Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves. Na edição desta segunda-feira(4) a Revista Época que acusou Damares de ter sequestrada a filha do casal, Lulu Kamayurá.  “Ficamos assustados com as mentiras espalhadas. Damares é nossa amiga. Nós autorizamos ela cuidar dela. Lulu vive com Damares com o nosso aval. Nunca fomos impedidos de ver nossa filha, ao contrário, todos nós somos uma família”, disse Piracumã Kamayurá. Ele disse ainda à reportagem que não gostou de ver a avó de Lulu, uma mulher de mais de oitenta anos, na capa da Revista Época. Segundo ele, a mulher não autorizou a utilização de sua imagem e possivelmente, pela dificuldade do idioma, os repórteres não compreenderam a fala da anciã. Segundo a revista Época, eles fizeram entrevista na linguá tupi, no entanto, ela fala Kamayurá. A manchete da revista diz ainda que "A branca levou Lulu", mas a mulher que levou Lulu ao médico, Márcia Suzuki é negra. Diferente do que foi publicado ainda na revista, Damares Alves jamais pisou na aldeia. 

Nem Lulu, nem o pai Piracumã foram ouvidos pela reportagem da Revista Época. Em entrevista em vídeo, a jovem indígena revela seu amor por Damares. “Foi amor á primeira vista, todo resto é mentira”, disse Lulu ao Portal UOL.

 

Presidente repercute vídeo de filha de Damares

A reportagem de uma emissora de televisão do Paraná, compartilhada pelas redes sociais do presidente Jair Bolsonaro e pelos filhos  Eduardo e Carlos Bolsonaro revela também que a equipe da Revista Época entrou na aldeia do povo Kamayurá, no alto do Rio Xingu sem autorização da Fundação Nacional do Índio (Funai) e sem autorização dos caciques da aldeia, conforme nota divulgada pela Funai nesta terça-feira (5) e deu gasolina para os indígenas que os ajudaram a entrar na aldeia.

A reportagem do Agora Paraná tentou contato com os repórteres Vinicius Sancini e Natália Portinari, mas os dois não atenderam as ligações. A Sucursal da Revista Época em Brasília, responsável pela matéria não quis responder as perguntas feitas pela reportagem sobre o motivo deles não sequer tentarem falar com Lulu e seus pais, personagens centrais da reportagem.

O irmão biológico de Lulu, Leandro Kamayurá, também conversou com a reportagem. Ele contou que também considera Damares como uma mãe. “ Damares não é só mãe de Lulu. Ela também é minha mãe e agora está sendo atacada com mentiras porque ela se tornou a mãe de todos os brasileiros”, disse Leandro Kamayurá.

Presença irregular da revista provocou revolta na Aldeia

A reportagem do Agora Paraná entrou em contato com a Funai que informou que a Revista Época não cumpriu nenhum dos pré-requisitos para o ingresso à Terra Indígena Kamayurá, do povo Kamayurá, o que despertou a revolta da comunidade, conforme ofício do cacique Kotok Kamayurá, enviado à presidência do órgão. De acordo com o documento, a comunidade não foi, em nenhum momento, consultada ou informada previamente por meio de documentos oficiais sobre o ingresso dos jornalistas. “Não assinamos a autorização do ingresso, sem antes esclarecidos o interesse e objetivo de trabalho do jornalista”, afirma o ofício.

A informação da revolta dos indígenas com o grupo Globo, do qual faz parte a revista, foi confirmado no dia em que a equipe estava na aldeia pela liderança indígena Ysany Kalapalo em um vídeo divulgado nas redes sociais. O portal de jornalismo alternativo Marreta Urgente, do Mato Grosso já havia denunciado que a equipe da Revista teria sido expulsa da aldeia após causar revolta entre os indígenas.